EXPOSIÇÃO FOTOGRÁFICA COMPROVA A “INCOMODIDADE INSUPORTÁVEL” EM QUE VIVEM OS MORADORES AO LONGO DO MINHOCÃO

Daniela Schneider

Daniela Schneider

Exposição fotográfica comprova aincomodidade insuportável

em que vivem os moradores ao longo do Minhocão

          Dr. César Martins, Promotor de Justiça de Urbanismo e Habitação, do Ministério Público, após exaustivos estudos sobre a situação habitacional dos mais de 230 mil moradores que residem ao longo dos 2 kms e 800 metros do Minhocão, assim a qualificou: incomodidade insuportável!

          A artista fotográfica Daniela Schneider realiza até 11 de fevereiro de 2017, exposição na qual revela essa trágica situação. A reportagem do MDM visitou a exposição.

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Daniela Schneider | Facebook – www.facebook.com

         

          No folheto da exposição lê-se:

          “Marco da arquitetura que “rasga” a paisagem da região central de São Paulo, o Minhocão é uma via pulsante entre poluição, barulho, lazer, abandono, vida pública e vida privada.

          Para Daniela Schneider, um objeto de desejo.

          Durante os últimos dois anos a fotógrafa percorreu as extremidades do Minhocão, dentro e fora, sábados e domingos, dia e noite.

          O resultado está na série TRIBOS, um conjunto com 51 imagens de janelas de apartamentos onde a vida cotidiana dos que por ali vivem, mesmo revelada, será sempre um segredo.

          Exposição: Tribos

          Fotografias: Daniela Schneider

          Curadoria: Diógenes Moura

          A fotógrafa se concentrou nas janelas.

          Primeiro numa intimidade não revelada.

          Depois, aos poucos, quando a noite chegava, as portas e janelas eram abertas e a vida do “outro” começava a existir para a fotografia. Mas é ai que está o limite.

Como ver sem invadir?

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Quem gostaria de ver a intimidade e a privacidade

de sua esposa e/ou filha, irmã, exposta dessa maneira?

          “Para além do constante monitoramento sobre o nosso cotidiano, a privacidade dos moradores do Minhocão é devassada pela curiosidade de seus frequentadores, num voyeurismo de mão dupla. Primeiro fotografei durante o dia, nos mais diversos horários.

          Depois, no início da noite, quando os moradores acendiam as luzes dos apartamentos tornando os ambientes mais expostos.

          Diante deles tentei ser quase invisível, fotografando pelas frestas com o intuito de evitar que eles me vissem. Algumas vezes, consegui. Outras não”.

          O resultado está nas imagens: uma quase fotografia de vestígios. Detalhes de luz e sombras, objetos perdidos no tempo, bonecas, imagens religiosas, móveis que avançam da sala para a varanda, jardins suspensos com plantas cobertas por fuligens, uma varal com roupas que despe e ao mesmo tempo constrói a imagem de um morador que não está na fotografia.

          “Cada imagem de TRIBOS tem um dono: não os que por ali passam, mas sim os que estão pelo lado de dentro de cada janela, protegidos apenas por uma parede “invisível” que poderá se tornar um limite perverso entre o que é público e o que é privado”, afirma o curador Diógenes Moura.

          Daniela Schneider é autora de uma consistente fotografia de linguagem urbana.

          Entre suas séries estão Largo da Batata; Linhas Aéreas; Cicatrizes da Cidade; e A cor em Heliópolis expostas em cidades como São Paulo e Londres.

          Foi finalista do PhotoEspaña e teve alguns de seus trabalhos publicados no El País e na revista Urban World da UN-Habitat.

          É jornalista formada pela FAAP e fotografa desde a década de 1980.

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Diógenes Moura,

escritor e Curador de Fotografia da Exposição, afirma:

          LIMPEZA DE PELE O Minhocão está na cidade e a cidade está no homem e o homem está no Minhocão e a ruína e o futuro da cidade estão juntos.

          Os de “dentro” do Minhocão protegem suas vidas por trás das portas e janelas devassadas porque o homem caminha sobre as suas duas pistas, olha para dentro da casa de todos eles, e daqui desse mesmo plano estamos dentro dos olhos de quem caminha com suas câmeras, seus skates, seus cachorros, seus carrinhos de bebê, suas bicicletas, suas baganas, seus tesões, suas tatuagens, seus celulares, seus remendos, suas entranhas, suas remelas.

          O Minhocão está para a cidade como a cidade está para o homem que olha para dentro das casas dos “outros” todas as tardes e noites e madrugadas, de sábados e domingos, o dia inteiro e durante todos os dias da semana depois das 21:30 e pronto : a cidade está no Minhocão e o homem e a mulher, os negros e os brancos e os mestiços e os asiáticos e as trans e os falsos e os loucos e os crentes e os pedantes e os bêbados estão dentro de casa, aos olhos da rua.

          O Minhocão está na cidade aos olhos de quem passa com os seus arrepios, com as suas câmeras , com os seus flashes automáticos, com suas imagens digitais entre concreto e fuligem, entre vento e tempo, entre vida, silêncio, gozo e morte.

          Então a cidade lateja quase em silêncio, “protegida” por dentro das janelas/fotografias de Daniela Schneider como um segredo prestes a se romper, ao mesmo tempo em que o homem está na cidade incauta e imensamente bela porque o Minhocão está no homem e todos nós estamos na cidade que esperneia e grita porque precisa respirar.”

 

EXPOSIÇÃO DANIELA SCHNEIDER

 

  1. Rua Rodésia 26, Vila Madalena – São Paulo SP 05435-020

Brasil – T: 11-3037-7349 – [email protected]

Exposição até 11 de fevereiro de 2017

de terça a sexta, das 11 às 19 horas – Sábados, das 11 às 17 horas

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P.S. fotos gentilmente cedidas pela artista Daniela Schneider.

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