CRESCE A REJEIÇÃO A IDÉIA DE PARQUE SOBRE O MINHOCÃO – DCI: VIABILIDADE DO PARQUE MINHOCÃO AINDA É INCERTA

CRESCE A REJEIÇÃO A IDÉIA DE PARQUE SOBRE O MINHOCÃO

 

URBANIZAÇÃO

VIABILIDADE DO PARQUE MINHOCÃO AINDA É INCERTA

 

Embora a prefeitura tenha decidido implementar o projeto até 2020,

estudos sobre os impactos na mobilidade em toda a região não foram divulgados

 

REBECCA EMY • SÃO PAULO

28/02/19

          A falta de informações por parte da prefeitura sobre os impactos da transformação do Elevado Presidente João Goulart, ou Minhocão, em parque divide a opinião de especialistas e do Ministério Público.

          “Não sabemos se a função do elevado enquanto via de acesso entre as regiões central e oeste é realmente dispensável. Não sabemos quais os trajetos alternativos que supririam a demanda de carros e não sabemos quase nada sobre o projeto”, diz o vice presidente de arquitetura da regional São Paulo do Sindicato Nacional das Empresas de Arquitetura e Engenharia Consultiva (Sinaenco), Eduardo Nardelli.

          A prefeitura anunciou a implementação do parque do Minhocão na última quinta-feira (21). Em nota, a assessoria informou que o governo deverá investir R$ 38 milhões para a obra que pretende entregar até dezembro de 2020.

          A ação vai ser realizada em três etapas (implementação de segurança, acessibilidade e a construção do parque). Serão 17,5 mil metros quadrados de jardins e deques.

          Mesmo que a prefeitura tenha decidido a maneira que pretende desenvolver o local, comparando a obra com parques elevados internacionais, como a Coullée Verte René-Dumont, em Paris, e o High Line, em Nova York, nenhum estudo sobre a viabilidade do projeto foi divulgado até o momento.

          No dia seguinte ao anúncio da iniciativa, o Ministério Público notificou a Secretaria Municipal de Urbanismo exigindo esclarecimentos sobre as consequências da obra no trânsito da cidade. Nesta terça-feira (27), a prefeitura teve que apresentar o que a desativação do Minhocão para carros pode impactar na mobilidade da cidade.

          Segundo Nardelli, os projetos internacionais que inspiraram a prefeitura eram locais menores e obsoletos antes de se tornarem parques, o que não ocorre com este elevado. “Não tinham a mesma funcionalidade do Minhocão que, quando ‘revitalizado’, vai ser ótimo para quem mora nos andares mais altos dos prédios em volta, mas para aqueles que moram embaixo vai ser péssimo, pois terão de lidar com o congestionamento”, diz.

          Outro ponto destacado por Nardelli é o alto custo de investimento e de manutenção do local. Segundo ele, antes de iniciar a obra, a prefeitura precisa se certificar que a infraestrutura do Elevado esteja em boas condições, pois a instalação de jardins demanda muitos cuidados com infiltração. (…)

https://www.dci.com.br/dci-sp/viabilidade-do-parque-do-minhoc-o-ainda-e-incerta-1.783536

 

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OPINIÃO  SARAH FELDMAN

A área do elevado João Goulart, conhecido como Minhocão,

deve ser transformada em parque?

Não.

Remoção é a chance de ter um projeto exemplar

Sarah Feldman (*)

OPINIÃO – FOLHA DE SÃO PAULO – 9/3/2019

          O hoje denominado elevado João Goulart, o Minhocão, foi inaugurado há exatos 48 anos como elevado Presidente Costa e Silva. Ao longo de sua existência e de seus quase três e meio quilômetros de extensão, não foram encontrados argumentos que contestem os prejuízos de ordem social, econômica e urbanística que essa obra de engenharia vem causando. 

          Não foram encontradas também soluções para reverter os efeitos negativos de sua presença na cidade. Encravado no tecido urbano, entre edifícios de moradias, comércio e serviços, desconsiderou a importância da emblemática avenida São João, da rua Amaral Gurgel e da praça Marechal Deodoro como espaços públicos estruturadores de um setor da metrópole paulistana densamente ocupado por grupos sociais diversos e por um amplo leque de atividades econômicas e culturais.

             A transformação do elevado em parque não reverte essa situação que prejudica moradores, proprietários, comerciantes e a população paulistana em geral. 

            É importante situar o Minhocão enquanto solução viária e urbanística na história da cidade, para além dos desvarios de um prefeito biônico do período autoritário, uma vez que o contexto político foi determinante para os processos de decisão e para sua construção. 

            As vias expressas elevadas compuseram as políticas federais e municipais associadas à prioridade do automóvel como meio de transporte. A execução do Minhocão em tempo recorde, para satisfazer a agenda do prefeito, só acentuou o processo de desqualificação das obras públicas que se instalou em São Paulo (e no Brasil), a partir dos anos 1960. Essa desqualificação não pode ser dissociada do poder conferido às empreiteiras com a conivência do poder público que o período autoritário legitimou, e que até hoje persiste. 

             No debate sobre os destinos do Minhocão, os custos do desmonte, seus transtornos e a apropriação do espaço do elevado como área de lazer vêm sendo utilizados como justificativas para sua manutenção.  

             A permanência do Minhocão representa a prevalência de um valor urbano superado: a opção pelo transporte individual. Esta é a condição para que o custo de seu desmonte se anteponha, há décadas, ao custo social de sua permanência. 

             A ocupação e a apropriação do espaço do elevado como área de lazer e sua desativação para o tráfego de veículos estabelecida pelo Plano Diretor representam a inversão dessa equação —uma conquista que envolveu mobilização, organização da população e debate público. Manter a estrutura e transformá-la em um parque não está à altura dessa conquista. 

             A remoção é a oportunidade de se realizar um projeto exemplar para as vias e praças —todas de amplas dimensões— que contemple múltiplas formas de mobilidade e de apropriação coletiva do espaço público. Trata-se de adequar esses espaços às demandas atuais, ao presente da vida metropolitana.

            Uma operação desse porte somente é viável com planejamento, com definição de etapas, de prazos e de custos. E ela exige soluções urbanísticas —de projeto e instrumentos— que assumam o transporte coletivo e o espaço público como valores urbanos fundamentais, que garantam a permanência de moradores e comerciantes que por décadas convivem com o Minhocão, e que reconheçam como interlocutores os grupos que vêm atuando para a sua ressignificação. É esse o presente que São Paulo merece. 

(*) Sarah Feldman

Professora livre docente sênior do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo

Universidade de São Paulo (USP). Instituto de Arquitetura e Urbanismo de São Carlos (IAU)  (Instituição-sede da última proposta de pesquisa)

Graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Mackenzie (1971), Mestre(1989) e Doutora(1996) em Arquitetura e Urbanismo pela FAU -USP; Livre-Docente pela EESC- USP (2008).

Atualmente é Professora Livre Docente Sênior, pesquisadora, orientadora de Mestrado e Doutorado do Programa de Pós Graduação em Arquitetura e Urbanismo do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo( campus São Carlos).

Foi coordenadora do Programa de Pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo da EESC-USP (2003-2007). Membro do Grupo de Pesquisa Arqbras.Bolsista Produtividade em Pesquisa CNPq,integra o Grupo de Trabalho Políticas Públicas e Territórios da CLACSO- Conselho Latinoamericno de Ciencias Sociais ( 2016-2019),é membro da rede de pesquisadores Urbanismo.br. Pesquisadora visitante da Université Paris-Diderot(2017).

Membro do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo ( 2015-2016 e 2017-2018).

Diretora da ANPUR- Associação Nacional de Pós-graduação e Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional ( 2001-2003). Editora da Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais          (2010-2012 ).

Membro do Coletivo Editorial da Revista Espaço& Debates ( 1986-2005). Membro do conselho editorial das revistas Revista Brasileira de Estudos Urbanos e Regionais( 2013-2017),Cadernos Metrópole, Oculum Ensaios .Desenvolve pesquisas e atua no ensino na área de História doUrbanismo no Brasil, com ênfase nos temas: instituições de urbanismo, legislação urbanística, bairros centrais- urbanização, metropolização e construção de territórios.ORCID 0000-0002-1671-9365. 

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2019/03/a-area-do-elevado-joao-goulart-conhecido-como-minhocao-deve-ser-transformada-em-parque-nao.shtml?utm_source=whatsapp&utm_medium=social&utm_campaign=compwa?loggedpaywall

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