MINHOCÃO: O DRAMA DIÁRIO DOS MORADORES

MINHOCÃO: O DRAMA DIÁRIO DOS MORADORES

 

          São Paulo Realizou-se na Câmara Municipal, no dia 3/12/2018 , 15ª Audiência Pública da Comissão de Justiça e Legislação Participativa, de 2018.

          Na ocasião, foi abordado o Projeto de Lei 098/2018, do Vereador  Caio Miranda, que autoriza o Prefeito a desmontar o Elevado João Goulart (Minhocão).

          Após estudos técnicos, foi considerado desnecessário ao trânsito pelo Plano Diretor de 2014. Sua desativação será gradativa até a eliminação total de uso viário.

          Viaduto com 2 kms e 800 metros, corta quatro bairros do centro, passando no meio de prédios residenciais.

          O que fazer dessa estrutura obsoleta, decrépita, sem manutenção e que agride a saúde de milhares de moradores (altos índices das poluições atmosférica, sonora e visual), sem segurança, sem privacidade e incomodidade insuportável?  “Parque”  (com grave risco de ser extensão da cracolância e a que custo de adaptação e manutenção?)  ou desmonte e se fazer belo, moderno e turístico Boulevard/parque no chão?

          Lideranças, associações e moradores tiveram oportunidade de democraticamente expor seus pontos de vista e problemas.

          Na impossibilidade de transcrevermos a totalidade das falas, apresentamos, como amostragem, duas intervenções de moradoras, relatando aos presentes, o drama que vivem diariamente.

         Vereador Caio Miranda: Sra.  Francisca Paula Guerra.

 

         Francisca Paula Guerra (moradora na Avenida São João):

         Boa noite a todos. Infelizmente eu moro do lado do Minhocão. Há bastante tempo. E só piorou desde que eu moro lá.

         Até agora só ouvi pessoas falando de esporte, lazer, que é bacana, yoga. Mas não vi ninguém falando do sossego dos moradores. Eu por exemplo, domingo agora, 7 horas da manhã, estava o funk na minha janela. Eu tive que levantar e ir para minha sala, porque no meu quarto eu não posso ficar. Eu não consigo ficar… eu estou nervosa gente…  o meu sonho é sair daquele lugar. Inclusive para o pessoal aí, meu apartamento está à venda. (palmas) Porque eu não tenho sossego.

          Nem  fim de semana, nem feriado. Dez horas da noite a bola cai na minha janela. Ficam gritando para pegar bola. Eu  tenho que sair no fim de semana, para ir para o interior, para minha família. Porque não consigo , não consigo ficar na minha casa. De verdade.

 Francisca Paula Guerra, moradora na Avenida São João

          Se alguém quiser comprar  meu apartamento… o pessoal do parque… está à venda. Porque eu não tenho mais como continuar naquele lugar . Nem em cima, nem embaixo.

          É horrível. É fedido. Não tem segurança. Eu escuto da minha janela: ”pega ladrão! Pega ladrão!”.  Quando vou ver, roubaram a bicicleta. É todo dia. Todo dia quando fecha (para carros) … antes era um pouco melhor, porque fechava só domingo. Agora o inferno começa sábado. Sábado cedo, já começa. Então, meu recado é esse.  (palmas)

         Maria Ena Navarro (moradora na Avenida Amaral Gurgel):  

         Boa noite. Eu estou aqui por causa do meu sono. Por causa da minha janela. Final de semana, eu estou tendo que sair de casa, porque tem eventos no Minhocão. Eu tenho filhos jovens. E os jovens precisam de algo para fazer. Mas num local adequado. Onde você não incomode o próximo.

          Domingo retrasado teve lá um evento. Pessoas andando com aquelas pernas de pau. Perigosíssimo. Eu trabalho de frente para a janela. Eu tenho que sair da sala e ir para o quarto. Não posso assistir televisão. Tem outros moradores do prédio que deixaram o prédio. O prédio está perdendo valor. Os imóveis estão perdendo valor.

          Ninguém consegue dormir. O movimento começa meia-noite!  Há duas semanas atrás teve um evento de quarenta pessoas. Começou às duas da manhã e terminou às seis da manhã.

          A falta de respeito… as pessoas que usam o Minhocão, não moram lá.

          Eu vejo jovens que vão se drogar lá de madrugada.

          Gente que tenta suicídio. Na frente da minha janela o cara tentou se jogar. E aí? A polícia passa. A GCM passa. Só que assim que eles vão embora, vem o pessoal… Todo mundo sabe.

          Anteontem roubaram toda a fiação. Eles se escondem  no Minhocão. Correm para lá. Porque tem uma ligação. Virou um lugar de pessoas que não são moradores . Pessoas perigosas. É um lugar perigoso. Especialmente para quem anda com criança. Quem anda com criança ali. Eu vejo.

          Tem jovens que vão lá beber e levam os filhos. As crianças correm de um lado para o outro. E se uma criança me cai dali de cima?

          A desvalorização está sendo tremenda na região.

          O sossego não existe mais.

          Eu peço pelo amor de Deus, que alguém tome alguma atitude.

          Encontrei no MDM alguma luz.

          O que nós precisamos, o que a cidade precisa, a cidade precisa melhorar, ficar mais verde, mais bonita.

          O Minhocão não é nada que vá agregar. Agora que aconteceu lá na Marginal Pinheiros, está cheio de árvores, matinho  lá no Minhocão.

          Eu tenho vídeo: tem pessoas que levam cadeira de praia e aproveitam o vão que está aberto ali, e fazem fogueira,  à noite. É lindo, né? Só que estão maltratando a estrutura do elevado. E aí? A hora que cair aquela porcaria? Derreteram todo o cano com aquela fogueira.

Incêndio no Minhocão? Não. Encenação teatral noturna.

          Para quem mora lá, é insuportável.

          Eu não quero mudar de lá.

          Eu adoro meu apartamento. Eu demorei um ano para reformar. 

          E agora… o que que eu faço?  Para onde eu vou? Para o fundo do quartinho lá de empregada? É o único lugar onde tem sossego…

          Agradeço.

 

 

 

 

Curti(0)Não Curti(0)

Link permanente para este artigo: https://www.minhocao.net.br/minhocao-o-drama-diario-dos-moradores/

Deixe uma resposta

X