No Minhocão, um “inimigo invisível”
Poluição: saiba as consequências para a saúde
de conviver bem de perto com o ar impróprio
Só no Brasil, o ar poluído mata 50 mil pessoas
por ano
- SÉRIES
- JORNAL DA RECORD – 24/04/2023 – 21H51
O ar poluído é considerado uma das maiores ameaças ao bem-estar da humanidade, segundo a Organização Mundial da Saúde. Também segundo a OMS, por ano, 7 milhões de mortes no mundo estão ligadas às impurezas no ar.
Cenário se repete aqui no Brasil. Só no Brasil, o ar poluído mata 50 mil pessoas por ano.
Na série especial desta semana, nós vamos mostrar as consequências na saúde para quem convive com a poluição bem de perto.
O inimigo é invisível.
Na maior cidade do país dá para dizer que a poluição é mais democrática do que a própria democracia.
Pedestre tem menos espaço do que motorista.
Mas todo mundo consome a mesma quantidade de poluentes.
Basta respirar por aí.
Mariana Veras: As pessoas não tem muito medo da poluição. Justamente porque na maior parte do tempo a gente não enxerga a poluição.
O Brasil tem um carro para cada quatro habitante.
Quem depende do trânsito vive numa encruzilhada. (…)
Repórter Leandro Stoliar: Quem mora em ruas ou avenidas mais movimentadas, tem o risco maior de desenvolver problemas de saúde, provocados pela poluição.
É o que mostra um estudo feito por pesquisadores da Universidade de São Paulo.
Esse aqui é um elevado muito conhecido na cidade como Minhocão.
Tem trânsito praticamente o dia inteiro. Em cima e embaixo.
Além da poluição sonora, tem também a sujeira provocada pela queima do combustível.
Em regiões como essa, tem poluição pela lado de fora e do lado de dentro das casas.
Leonardo Lorini, comerciante: A gente passa o dedo aqui…
Leonardo mora em frente ao elevado.
E trabalha também na frente do elevado.
Ele nasceu nessa região.
Depois de tantos anos, os problemas de saúde se multiplicam.
Eu já tive problema de saúde. Tenho muito medo de adoecer, principalmente por problema respiratório. Mas gostar da região é maior.
Francisco tem 68 anos. E há vinte mora neste prédio a menos de 200 metros do Minhocão.
Para tentar amenizar a poluição ele mantém tudo fechado em casa.
Malu Dagli: É muito importante mantermos as casas ventiladas, arejadas, e livres dessa poluição. Que o ar seja renovado.
Francisco Gomes, Diretor do Movimento Desmonte Minhocão: Você não tem liberdade de abrir. Para você ouvir os passarinhos. Pegar um ar fresco. A não ser à noite.
Repórter Leandro Stoliar: Hoje o elevado fecha a partir das 8 da noite e só reabre às 7 da manhã. Uma solução encontrada pelo poder público, para amenizar as poluições sonora e do ar.
Com 3 kilometros e seiscentos de extensão, o Minhocão tem um ar 79% mais poluído do que no resto da cidade.
Mesmo com a janela fechada, a poeira se acumula aqui.
Francisco Gomes, Diretor do Movimento Desmonte Minhocão: Exatamente. Tive problema de respiração. Fiz uma chapa. Apareceu … era uma mancha… no pulmão… e a gente não fuma. Nunca fumei.
Mariana Veras: Essa poluição ao longo dos anos, vai minando a sua saúde. E a saúde reprodutiva também.
Repórter Leandro Stoliar: Segundo a Organização Mundial da Saúde, qualquer poluição mínima é prejudicial. Mas a níveis consideráveis aceitáveis.
Para medir a qualidade do ar, a professora vai usar esse equipamento aqui, que é um filtro especial. Com ele, é possível saber o nível de poluição lá na rua.
O filtro é colocado no equipamento.
24 horas depois, a cor muda completamente. (…)
Olha a cor do filtro (…)
Outra conclusão do estudo, é que uma hora no trânsito de São Paulo equivale a fumar um cigarro.
Animais também são vítimas da poluição.
Esse aí é o JR. A Elisangela já fez de tudo para curar a bronquite do pet. Bronquite crônica. Juntou com essa tosse quase que está 24 horas acompanhando ele. Quando não tinha mais esperança, resolveu fazer um teste. Levou o cachorrinho para a casa da mãe, em Santa Catarina.
Elizangela de Lima, corretora de imóveis: Sumiu a tosse. JR foi um outro cachorro. Eu até estranhei. Nossa! Estava dormindo a noite toda. Voltamos, exatamente duas horas depois que colocamos os pés em casa, começou tudo de novo. E está aí…
Repórter Leandro Stoliar: Os pesquisadores descobriram que essas partículas, aspiradas pelo nariz, se espalham pelo corpo. E não são eliminadas. Nem pelos animais, nem por nós, seres humanos. Mas só é possível ver por meio de um microscópio. O aparelho revela a contaminação do pulmão de um vira-lata morto aos cinco anos, vítima de pneumonia. As manchas pretas são partículas de carvão do ar.
Aqui em redor de um vaso sanguíneo. Esse material particulado, ele pode adentrar as células , após a metabolização e causar danos ao DNA. Por causa dos prédios, há uma concentração maior de poluentes no ar. Não há grande circulação de ar naquele local.
Repórter Leandro Stoliar: Depois do trabalho Leonardo sempre encontra refúgio aqui, na área mais verde da casa.
Leonardo Lorini, comerciante: Aqui a gente consegue fugir um pouco da poluição sonora, da poeira, da sujeira.